12.27.2013

Grito Lancinante

Publicado originalmente na Atualidades Ornitológicas
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Grito Lancinante

Vista ao longe no alto de um morro, à direita, a pequena casinha domina a paisagem, destacando-se seu branco colonial contra a mata fechada. Ao fundo, no vale, a estradinha sinuosa que dá acesso a esse paraíso natural. Somente uma que outra curva aparece entre a vegetação. O riacho e suas pedras, se esgueiram por entre o vale e a mata, Uma pinguela faz o acesso à casinha e é nela que vemos um carro estacionar, depois de percorrer todo o vale, encoberto pela vegetação. Descem um casal e dois filhos que chegam para uma noite no pequeno chalé.

A pinguela tortuosa mete medo nos adultos e desperta o lado aventureiro das crianças, mochilas nas costas, camisas xadrez, botas novinhas, todos aqueles detalhes distinguem o casal de urbanos dos habitantes da região.

 
O sol se põe por entre as árvores, seus últimos raios são admirados pela família, lá do alto da varanda da casinha, pendurada acima das árvores. A noite cai implacável. Escura, negra, profunda. Agora a casinha é delineada apenas pelo contorno luminoso e tremulante da janela e da porta. Lá no telhado uma fresta entre telhas cria um brilho inexplicável. Luz tênue, amarelo no fundo negro.

Olhos de horror se abrem à esquerda do quadro... Um grito lancinante no meio da mata.
Barulho de um tremendo susto dentro da casa. Vemos olhos arregalados que enchem a janela. Um homem acende a lanterna e sai pela porta... A luz da lamparina espalha uma aura amarela na pequena porção da noite que mal consegue iluminar.

Trêmula, a luz da lanterna escrutina a escuridão. Partes da paisagem se revelam, outras permanecem misteriosas, encobertas na escuridão total.O medo e a insegurança diante dos perigos da noite transparecem no movimento trêmulo da luz da lanterna. Busca, busca, mas nada encontra... Volta para casa inseguro, caminhando de costas.

Todos estão na porta: O pai tateia o chão em busca da lanterna caída, a mãe segura a última vela. De repente mais um grito, o susto. A confusão derruba a vela. Escuridão total. Gritos das crianças revelam o estado de espírito da pobre família. Pai tenta acalmá-los. Em vão. A mãe tem crise histérica.

O escuro impede a compreensão do que se passa. Choro miúdo, passadas carregadas, a família se retira da casinha, entra no carro e parte pelo meio da mata. Vemos pedaços da lanterna e do farol se movimentando na escuridão.

O silencio se restabelece. Grilos ao fundo, o ruído do riacho, a luz de um novo dia se aproxima. Por entre os morros, mais um grito, muito próximo. Desta vez a luz permite vislumbrar uma árvore, é nela que vemos ao raiar do dia, uma coruja enorme. No toco seco vemos seu ninho.

Ela olha para o sol que se levanta e entra na cavidade onde vai dormir tranqüila, não sem antes dar mais um grito lancinante...


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